“20 – Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o
inquiridor deste século? Porventura, não tornou Deus louca a sabedoria deste
mundo? 21 – Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não conheceu a Deus pela
sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação. 22 –
Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria; 23 – mas nós
pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus e loucura para os
gregos. 24 – Mas, para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes
pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus. 25 – Porque a loucura de
Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os
homens.”.
A
sabedoria é uma palavra comumente relacionada a conhecimento, inteligência,
capacidade de entendimento e sagacidade[1], aplicáveis ao ser humano.
Mas, e quanto à sabedoria divina? Como ela poderia ser definida? Na verdade,
não existe um conceito fechado, aceito por todos os teólogos. A maioria deles,
contudo, ratifica[2]
que Cristo é a personificação da sabedoria de Deus, uma vez que ultrapassa a
todos os limites da ciência humana e o aprendizado empírico[3]. Isso mostra o quão
pequeno somos e que infinidade do saber de Deus não pode ser plenamente
compreendida. Cabe ao homem render-se pela fé diante do Pai, ainda que não
consiga entender seus sábios caminhos.
Outra
perspectiva que devemos ter é vislumbrar as muitas ocasiões em que Deus
propositalmente, provou sua sabedoria pelo contraceno[4] humano. À lógica dos
homens, os planos divinos são absolutamente loucos (1Co 1.23). Não obstante,
podemos confiar e devemos buscar conhecê-lo, pois “o temor ao Senhor é o princípio do saber” (Pv 1.7). A partir deste
princípio, analisaremos alguns aspectos da sabedoria de Deus:
I.
A
sabedoria de Deus é infinita; e,
II.
A
sabedoria de Deus contraria a lógica humana;
I. I.
A
sabedoria de Deus é infinita
O
conhecimento humano é finito, diferentemente do divino, diante do qual todas as
barreiras se desfazem. A sabedoria do Senhor excede a toda ciência dos homens,
a todas as experiências comuns ou à possibilidade de entendimento humano,
deixando-nos totalmente à mercê da confiança Nele (Tg 3.17).
1. A sabedoria de Deus ultrapassa a ciência humana:
“... o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria...” (v. 21 – ARA[5]). A tentativa dos homens
de se chegarem a Deus por meio da ciência não foi coroada de êxito. Por isso,
sabiamente, Deus se revelou de diversas maneiras, permitindo-se ser encontrado,
mesmo a despeito do limitado conhecimento que eles dispunham. A história de
Daniel ilustra o quanto a sabedoria de Deus sobrepuja o conhecimento humano,
mostrando que o rei Nabucodonosor encontrou nos jovens hebreus dez vezes mais
sabedoria que em todos os magos e encantadores – aqueles que dominavam a
ciência da época – (Dn 1.20). Além disso, quando confrontados com a exigência de
explicação do sonho do rei, os magos estiveram impotentes, enquanto que Daniel
mostrou que do Senhor é a sabedoria e Ele conhece até mesmo o que está encoberto
(Dn 2.20-22).
2. A sabedoria de Deus transpõe o conhecimento empírico do
homem:
“Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos
buscam sabedoria”
(v.22 – ARA). Muitas pessoas, embora não possua uma gama de conhecimento elevada,
possuem uma sabedoria peculiar, pois extraem de suas experiências pessoais
grandes conhecimentos que lhes servem de base altamente aplicável à vida. Os
judeus baseavam boa parte do seu conhecimento em sua cultura de sinais.
Entretanto, foram confrontados com os propósitos divinos quanto ao plano de
salvação, uma vez que a história de Jesus era vista como uma contracultura de
sua época. Eles esperavam um rei salvador que tomaria o poder do império romano
e restabeleceria a ordem conforme as experiências históricas do povo. Todavia,
ocorreu de maneira totalmente diferente, pois Jesus se mostrou um rei
financeiramente pobre, sem poder político e desapegado do trono humano. O Deus
sábio não se limita ao nosso conhecimento.
3. A sabedoria de Deus excede o entendimento, levando o
homem à fé (v. 24):
Com o decurso do
tempo, o homem evoluiu em inteligência, passando a ostentar uma consciência
aparentemente adulta e madura, ignorando o Criador e tornando-se indiferente à
Sua revelação. A evolução da ciência permitiu a falsa impressão de
independência quanto a Deus. Tudo isso, contudo, é mero subterfúgio para tentar
remediar o vazio que somente Deus pode preencher. É este vazio que tem feito
com que todos os povos busquem um contato com o espiritual, ainda que não com
entendimento.
Todavia, somente em
Cristo, poder e sabedoria de Deus (v. 24 desse estudo) o homem pode suplantar
este ceticismo[6]
científico, aproximando-se de Deus, pela fé. Para tanto, há que se abandonar,
como a um refugo, tudo aquilo que nos desvia da verdadeira sabedoria.
“Sim, deveras considero tudo como perda, por
causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do
qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo”.
(Fp 3.8 – ARA).
II.
A
sabedoria de Deus contraria a lógica humana
É visto que muitos
dos propósitos de Deus andam na contramão do pensamento humano, em virtude de
Sua sabedoria. Por esta razão, quando comparados com a razão e os fundamentos
lógicos de nossos conhecimentos, são considerados como loucura. Eis alguns
motivos:
1. Contraria a razão dos povos:
“Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos
buscam sabedoria”
(v. 22 – ARA). Conceitua-se razão como sendo a faculdade de compreender
relações, distinguindo, com julgamento de valores, o verdadeiro e o falso, o
certo e o errado. Para os judeus, o comportamento de Jesus confrontava seus
valores éticos[7]
e princípios morais (Mt 11.19; Mt 23.13-36). Eles não conseguiam discernir, por
meio da razão, o certo e o errado. Para os gregos, que em sua maioria não criam
na ressurreição, a vida de Cristo era-lhes incompreensível, pois transpunha a
capacidade que eles tinham de racionalizar e efetuar juízos de valor (At
17.32-34). Em diversas partes, a Bíblia mostra como a sabedoria de Deus, contraria
a maneira racional dos povos (Êx 8.16-19; 2Cr 9.1).
2. Contraria o fundamento comum (v. 23):
Fundamento significa
base, alicerce, sustentáculo. A sabedoria de Deus, baseado na vida de Jesus,
confronta a todo e qualquer fundamento comum aos povos. Para os judeus, por
exemplo, a crucificação de Cristo, bem como o título posto na parte superior da
cruz dizia “este é Jesus, o Rei dos
Judeus” (Mt 27.37 – ARA), era um escândalo. Quem poderia, em sã consciência,
venerar a um rei vencido, pendurado em uma cruz? Eles não compreendiam,
contudo, que Deus, em sua infinita sabedoria, os salvaria contrariando as bases
do povo. Conosco não é diferente. Por vezes, Deus também inverte polos, muda
filosofias, mostra-nos novas perspectivas. Há uma máxima que diz que “quando pensamos ter todas as respostas,
Deus muda todas as perguntas”.
3. A sabedoria de Deus é vista como loucura pelo homem (v.
25):
Quando Paulo escreveu
a carta aos coríntios, encaminhou-a a um povo de baixo poder aquisitivo e que
não tinha amplo acesso à educação da época. Se as coisas de Deus estivessem limitadas
ao conhecimento humano, possivelmente, a salvação estaria condicionada apenas
às pessoas com elevado grau de informação, e as demais estariam excluídas. No
entanto, a chave para se compreender a sabedoria de Deus está com o Espírito
Santo. Ele é Deus e, portanto, o elo entre o Senhor e a humanidade, em
referência à possibilidade de se entender os propósitos do Pai. Nenhum ser
humano poderá compreender o divino apenas por seus próprios conhecimentos.
Pedro reiterou este argumento quando afirmou que Jesus era o Cristo, o filho do
Deus vivo, ao que Jesus respondeu: “não
foi carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai, que está nos céus” (Mt
16.17).
Finalmente, conhecer
o Deus sábio é imprescindível à vida cristã. Deve-se levar em conta que a Sua
sabedoria ultrapassa os limites humanos, a ciência, a experiência empírica e
até a possibilidade de se entender os desígnios eternos. Além disso, a
sabedoria de Deus, em muitos casos, se contrapõe à lógica do homem, seja pela
razão ou fundamento humano. Enquanto o homem não perceber que apenas pelo
Espírito de Deus sua sabedoria pode ser compreendida, enxergará tudo apenas
como pura loucura. Que os nossos corações estejam inclinados a conhecer melhor
a Sabedoria de nosso Deus.
[1] Sagacidade: Astúcia, finura,
perspicácia.
[2] Ratificar: Confirmar
[3] Empírico: 1º) Pessoas que se faz passar
por aquilo que não é; 2º) Pessoas que se baseia em experiências.
[4] Contraceno: Exprimir (o ator), pelos movimentos fisionômicos,
as ideias ou os sentimentos que nele despertam as palavras de outros atores.
[5] ARA: Almeida Revista Atualizada.
[6] Ceticismo: 1. Doutrina
dos que afirmam que o homem não pode atingir a verdade absoluta; 2. Disposição
para duvidar de tudo; 3. [Figurado] Descrença; e, 4.
Incredulidade.
[7] Éticos: adj.1. Da ética ou a
ela relativo; 2. Imagem ética: A que mostra ao vivo os costumes,
índole e natureza das coisas.
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